O que entendemos por “violência” depende, em larga medida, dos valores morais que temos e de nossa sensibilidade.
O que para uns aparece inequivocamente como violência, para outros pode ser identificado como prática “normal” ou justificável. Outro dia, assisti a uma entrevista ilustrativa realizada pela BBC com um senhor, negro, morador da periferia de Londres (disponível em: http://bit.ly/onM2Ij) . A jornalista faz a entrevista do estúdio da TV britânica e quer saber o quanto o entrevistado está chocado com a rebelião dos jovens que incendiaram prédios e produziram saques. Esta era a sua “pauta”: entrevistar um morador “respeitável” que pudesse relatar seu espanto e indignação com a atitude dos jovens. O que ocorre, entretanto, é algo surpreendente: o senhor negro declara não estar chocado com os acontecimentos. Afirma que reside no bairro há décadas e que, ao longo de toda a sua vida, têm sido testemunha da forma desrespeitosa e abusiva como a polícia trata os jovens da região. Relata que seu filho e seu neto são abordados várias vezes pelo simples fato de serem negros e que a revolta eclodiu quando a polícia estourou a cabeça de um rapaz. A jornalista, então, afirma: “isto precisará ainda ser provado, precisamos aguardar a conclusão do inquérito”. O entrevistado segue explicando porque, em sua opinião, a revolta se justificava quando a jornalista o interrompe perguntando: -“O senhor está envolvido com a revolta?” É impressionante a assimetria das perspectivas e penso que esta entrevista deveria ser exibida nos cursos de jornalismo em todo o mundo, senão por outro motivo para se mostrar o que um profissional da área não deve fazer.
Esta semana, um vídeo com cenas de 2008 veio a público, mostrando policiais militares de São Paulo se omitindo de prestar socorro a dois jovens baleados. Um deles morreu, o outro prestou depoimento recentemente à Corregedoria. Os dois teriam assaltado uma metalúrgica quando foram baleados pelo segurança. O vídeo mostra um dos policiais dizendo: “Estrebucha, estrebucha, vai”. Outro comenta: “Não morreu ainda? “ Não sei qual a reação da pessoas diante deste episódio. Mas imagino que o vídeo não deva produzir verdadeira indignação. No senso comum, a mensagem neutralizadora aparece como: “Afinal, eram assaltantes, não eram? “ Sim, e por isso, devemos concordar com o fato dos policiais – dez ao todo – terem se divertido com a agonia dos baleados? A condição dos feridos, - a de suspeitos - autorizaria os agentes encarregados de cumprir a lei a ignorá-la solenemente? Deveríamos, afinal, conferir aos policiais o mandato de decidir sobre a vida de suspeitos imobilizados? Boa parte dos brasileiros entende que sim, que seria desejável que a polícia tivesse este mandato. Por este caminho, seguimos alimentando a disposição delinqüente que amaldiçoa o País e raciocinando com os mesmos termos empregados por aqueles que vivem à margem da lei. Reside aqui o maior desafio para a segurança pública brasileira, exatamente aquele que – por todas as informações disponíveis - não será enfrentado tão cedo.
Esta semana, um vídeo com cenas de 2008 veio a público, mostrando policiais militares de São Paulo se omitindo de prestar socorro a dois jovens baleados. Um deles morreu, o outro prestou depoimento recentemente à Corregedoria. Os dois teriam assaltado uma metalúrgica quando foram baleados pelo segurança. O vídeo mostra um dos policiais dizendo: “Estrebucha, estrebucha, vai”. Outro comenta: “Não morreu ainda? “ Não sei qual a reação da pessoas diante deste episódio. Mas imagino que o vídeo não deva produzir verdadeira indignação. No senso comum, a mensagem neutralizadora aparece como: “Afinal, eram assaltantes, não eram? “ Sim, e por isso, devemos concordar com o fato dos policiais – dez ao todo – terem se divertido com a agonia dos baleados? A condição dos feridos, - a de suspeitos - autorizaria os agentes encarregados de cumprir a lei a ignorá-la solenemente? Deveríamos, afinal, conferir aos policiais o mandato de decidir sobre a vida de suspeitos imobilizados? Boa parte dos brasileiros entende que sim, que seria desejável que a polícia tivesse este mandato. Por este caminho, seguimos alimentando a disposição delinqüente que amaldiçoa o País e raciocinando com os mesmos termos empregados por aqueles que vivem à margem da lei. Reside aqui o maior desafio para a segurança pública brasileira, exatamente aquele que – por todas as informações disponíveis - não será enfrentado tão cedo.
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